A mesa já não existe, pelo que consta durou uns belos anos, e não deixou de existir hoje. Passaram alguns meses desde a sua partida e podemos agora perceber que não era uma mesa qualquer. Nos seus tempos de glória tinha o poder de reunir à sua volta mais de 8 pessoas mesmo que sempre lhe tenham dito que fora feita apenas para 6. E não era apenas na capacidade que era distinta mas também na utilidade. Meras refeições resultam em grandes discussões de ideias, a pausa para um café e dois dedos de conversa acaba numa barrigada de riso. Tudo isto apenas com pratos em cima do seu simples tampo. É trocar os pratos por papel e caneta e ver o que acontece.

Mas uma mesa como esta não pode durar para sempre. As pernas não aguentam tamanha responsabilidade, literalmente. Começou por perder a força num dos seus cantos mas nem assim os utilizadores mais corajosos a deixaram para trás.

Até que finalmente partiu.

Desde então que a copa se foi abaixo. As restantes mesas deixaram de acreditar e não passam, agora, de meros suportes para o que vier. O seu momento preferido do dia, a hora de almoço, passou a ser o mais stressante. Sentem falta da velha grande mesa, o seu maior suporte.

As ideias e a discussão não surgem porque os almoços têm de ser rápidos, há muitas barrigas à espera. A copa começou a tornar­-se refeitório e a servir apenas esse mesmo propósito.

A grande mesa certamente agradece o luto que lhe tem sido feito mas onde quer que esteja de certeza quer que passemos à frente e que não deixemos a sua copa cair no banal espaço onde se come.

Está na altura de a substituir.

Um apelo aos senhores das mesas, acredito que farão o melhor possível.